Droga

Honestidade. Eis a palavra de ordem ao intentarmos tratar do tema em epígrafe.
De maneira leve e honesta, precisamos começar a deixar claros certos porquês tais como o das drogas legalizadas, o da descriminalização e legalização em outros países, o da história e origem das drogas, o dos efeitos sociais etc.
Haveremos, contudo – e pra não perder o objetivo principal a se alcançar: honestidade –, que admitir o “problema” como doença, no mínimo social. Ainda que não adentremos aos já reiterados campos de pesquisa científica que provam os efeitos orgânicos individuais do uso de “tóxicos”, precisamos reconhecer os “frutos” que tal árvore tem oferecido à sociedade.
E falando em árvores e frutos, é inevitável lembrar uma passagem registrada na cultura cristã que muito se relaciona à questão proposta no parágrafo anterior – aquela em que Jesus repete o profeta Isaías: “Vós ouvireis com os ouvidos, e não entendereis; e vereis com os olhos, e não vereis. Porque o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles fecharam seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam no coração e se convertam, e eu os sare.”
Assim, questionemo-nos, com o mínimo de preconceito possível às nossas falhas concepções e sem julgamentos, a respeito do “custo-benefício” correspondente às atitudes do vício, das alternativas mais ou menos adequadas para encontrarmos prazer e alento, e, sobretudo, identifiquemos em nós (usuários ou não – mas viciados todos) os motivos de sempre protelarmos o diálogo aberto, franco. A quem interessa, senão a nós mesmos, continuar o jogo da ilusão, da auto-enganação? A quem, senão à mídia (feita de nós, homens e mulheres), interessa a obscuridade do assunto? A quem beneficiam, senão aos traficantes, nossas evasões, sofismas, mentiras e tabus que se criam em torno deste monstruoso comércio, deste lamentável submundo?
Não há justificativa e há que haver fraternidade – compreendida em seu mais amplo e profundo significado – para, finalmente, sararmos, promovermo-nos a auto-cura individual e social de que tanto necessitamos para cumprir os desígnios inevitáveis da perfeição e da felicidade!
Vamos iluminar esta discussão com a humildade e a democracia imprescindíveis e urgentes, e abandonaremos, tranqüilos e libertos, os clichês enganosos que vimos alimentando em nossa alienação consumista. Chega de falar que “droga é uma droga” e continuar fugindo da realidade dos psicotrópicos e seu comércio mais organizado que muitos dos legalizados. “Saber e não fazer é ainda não saber”, diz o provérbio Zen, perfeitamente aplicável às circunstâncias atuais, em que admitimos, com pesquisas sérias e irrefutáveis, que o alcoolismo é a doença que mais mata no mundo depois das cardiovasculares; que os fármacos movimentam uma indústria criminosa e, nos dizeres do Dr. Pat Adams, “nojenta”; e continuamos a aplaudir o circo de horrores e comer o pão bolorento.
Enfim, conforme nos orientam RICARDO VESPUCCI e EMANUEL FERRAZ VESPUCCI, no livro O Revólver que Sempre Dispara, precisamos mudar a nossa concepção sobre esta problemática, superando as hipocrisias e moralismos atávicos, e olhando com o olhar respeitoso e firme com que se olha um paciente canceroso ou infartado... Ou quem sabe experimentarmos inverter a questão como o fez Mano Brown, respondendo a uma pergunta no programa televisivo Roda Viva mais ou menos nestes termos: “Você é contra o uso das drogas? – Não. Sou a favor de que as pessoas sejam felizes sem precisar deste artifício.”

Rodrigo Castro Francini – Professor da Arrivabene – CAPITAL JUVENIL

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