ATA da Palestra de João Blota para Prefeito, Autoridades e interessados sobre o CRACK - Capital Juvenil


ATA DA PALESTRA DE JOÃO BLOTA ÀS AUTORIDADES DE SÃO MIGUEL ARCANJO: “CRACK: SUAS CONSEQUÊNCIAS NA SOCIEDADE E FORMAS PARA SUA ERRADICAÇÃO”.


Aos dezesseis dias do mês de outubro, às dezesseis horas (16:00) horas, reuniram-se nas dependências do Clube Bernardes Júnior situado no município de São Miguel Arcanjo, São Paulo, Vossa Excelência o senhor prefeito Celso Mossin, o Chefe de Gabinete Ari Rosa do Nascimento, a senhora Tereza de Jesus Silva Fogaça - Secretária Municipal de Educação, Lita – Secretária da Assistência Social, Maria Conceição Caetano Mossin - Presidente do Fundo Social de Solidariedade, Vanderlei Mendes Bicudo - Secretário de Administração e Finanças, Eliana Terra de Souza Yamamoto (Eliana Psicóloga) - Vereadora, Eduardo Augusto dos Santos Terra (Dudu) - Vereador, Sargento Ruivo - Sargento de Polícia, Dr. Eduardo - Delegado de Polícia, o palestrante João Blota, Tiago Miguel Knob - fundador do grupo Capital Juvenil, funcionários do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), demais autoridades locais, líderes comunitários e cidadãos são-miguelenses , afim de assistir e participar da palestra ministrada pelo escritor João Blota denominada CRACK: SUAS CONSEQUÊNCIAS NA SOCIEDADE E FORMAS PARA SUA ERRADICAÇÃO. Uma vez iniciada a palestra, Tiago começa agradecendo a presença de todos, explicou um pouco acerca do tema presente e apresentou aos presentes o grupo Capital Juvenil, principal responsável por tal evento. Tiago encerra sua introdução dizendo: “Juntos conseguiremos uma São Miguel mais saudável para todos.” Lita, Secretária da Assistência Social de São Miguel Arcanjo, segue a apresentação explicando a parceria entre o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Capital Juvenil, ressalta as autoridades presentes e passa a palavra ao palestrante João Blota. João inicia sua palestra apresentando-se ao público como publicitário, escritor e ex- usuário de crack. Disse que chegou até o Tiago através de um amigo em comum e agradece por estar ali dentre todos. Completa dizendo que ficará feliz em ajudar a todos que eventualmente necessitarem de sua ajuda e que voltará quantas vezes forem necessárias, caso solicitado, sem nenhum custo. Começa contando sobre sua experiência junto às drogas e à vida criminosa. João disse ter começado o uso de drogas aos nove anos de idade e, quando se deu conta, já estava fugindo de policiais. Disse que chegou a fumar quarenta pedras de crack por dia e que sua mãe um dia o encontrou numa favela de cueca, num dia chuvoso, rodeado por traficantes. “Traficante colocou espingarda na minha cabeça e não morri. Estive numa chacina e sobrevivi.” – agradeceu por estar vivo. Desde então iniciou seu processo de recuperação que disse ser nada fácil. Ainda acrescenta: “... a dor da abstinência é igual a um cachorro te mordendo por dentro.” Comentou sobre a diferença de cada experiência, disse que varia de pessoas, independentemente do quanto o indivíduo tenha usado drogas ao longo de sua vida – “A abstinência sempre será muito dolorosa, o indivíduo tem de perseverar.” Após tantas extremidades, disse que caiu em si e entendeu que precisava ‘devolver’ de alguma forma aquela graça que lhe foi concedida, e acrescentou que seu objetivo não envolveria a religiosidade.
Apresentou seu livro ao público e comentou sobre o título NÓIA – O Poder Tentador De Nossas Fraquezas. Disse que não poderia ter um melhor tema. Antes de escrever este livro indagou-se se deveria ou não por este livro no mercado, o que as pessoas pensariam dele, se afastariam ou o apoiariam. “Dane-se, faria tudo de novo”- completou. João continuou dizendo que a cada usuário de crack a repercussão atinge um raio de 15 km - “O usuário é uma vítima, e o traficante é uma vítima do sistema.” Disse que é necessário quebrar este tabu - “Se alguém tivesse contado para minha mãe que eu era usuário, talvez não estivesse ficado tanto tempo no crack. O crack é a pior droga, é a rapa do tacho da cocaína.” Pediu para São Miguel se unir contra o crack – “Esqueçam toda e qualquer divergência entre si, porque o crack tomará conta da cidade se não fizerem alguma coisa. Não estou aqui como professor, estou aqui como sobrevivente.” Abriu oportunidade para perguntas e comentários. Dudu, vereador da cidade, pergunta acerca dos resultados que João tem visto, como fazer a abordagem ao usuário. João responde dizendo que é preciso chamar as mães, chegar mais perto. Disse que o objetivo de todo traficante é ajudar a mãe – “Tem que agir como educador e não como repressor. Na verdade, a mais pura saída do crack é evitar a entrada.” Logo, o Padre Márcio disse que é constantemente procurado por famílias desesperadas e disse também que na maioria das vezes o usuário não quer se ajudado. João responde dizendo que enquanto o drogado não sofrer, não chegar ao fundo do poço, ele não terá saída. “Esta chave é de dentro pra fora e não de fora pra dentro.” Israel, locutor da rádio local pergunta: “ E se a família não se importa com o drogado?” João responde apontando para o Tiago dizendo que a solução neste caso seria grupos de ajuda como o Capital Juvenil, diz que enquanto der respeito, saúde e atenção, o sujeito não entrará nas drogas. Cidinha, mãe de Tiago e assistente social do município comenta que gostaria de aproveitar esta oportunidade para todos fazerem um compromisso de se unirem mais. Sugere uma política pública forte, atenção à saúde, ao lazer, à educação. Disse que cada setor tem seus problemas, mas a união fará a diferença. Lembra que o município não comporta a recuperação de todos os usuários e diz que as famílias têm que ter a chance de se recuperar ali. Termina dizendo: “O problema é nosso, não adianta institucionalizar.” Uma professora pergunta como fazer a prevenção nas escolas, já que consegue identificar aquele aluno que está exposto a elas. João disse que primeiramente tem que avisar a polícia, invocar as autoridades para se unirem e resolverem o problema nas escolas. O Sargento Ruivo diz que eles têm um programa, mas depende inteiramente das denúncias da população, convida a população para visita-los, pois estão de portas abertas. João completa o comentário dizendo que em Nova Iorque é aplicada o sistema de tolerância zero – “Existe só um jeito de combater as drogas: força!” Lita, secretária da Assistência Social, disse que em suma, todos estão a par da situação e que a Assistência Social sozinha jamais conseguirá – “Todos os setores devem se unir, o problema é coletivo.” Logo, o Senhor Prefeito toma a palavra e agradece a Deus a presença do João e de todos os presentes, disse que estão tentando levar ajuda à todos os polos, que conseguiram acabar com uma favela e completa dizendo que ainda há muito por fazer. João diz ao Senhor Prefeito: ”Invista em programas sociais.” A vereadora Eliana comentou que trabalha com dependentes há muitos anos, tem grupo de apoio e que por muitas vezes pensou em desistir, pois diz ser um trabalho árduo. Disse que no início das reuniões de apoio, duas ou três pessoas apareciam, e hoje falta cadeira para acomodar as pessoas, em sua grande maioria, mães. Ressalta que este feito tem efeitos positivos e negativos, positivo porque as pessoas estão procurando ajuda, porém isto significa também, que há mais pessoas usando drogas. Agradece ao Tiago e ao Senhor Prefeito pela ajuda que têm dado. João diz que o que está faltando é todos sentarem e conversarem sobre o que está sucedendo na cidade. Pediu para fazerem um selo; “Aqui não aceitamos drogas!” Professor Gerson, residente do bairro Abaitinga, disse que teve a oportunidade de fazer um trabalho contra as drogas em sua escola e obteve resultados. Disse que ele próprio tirou oito traficantes da escola onde leciona. Seu irmão foi usuário e desabafou com o Professor dizendo: “Nada me deixa mais doente, do que o abandono de um parente.” João completou dizendo: - “O que estamos fazendo aqui não é política, é amor.” Um cidadão são-miguelense comenta que se o trabalho de prevenção for aplicado, os traficantes vão falir e assim os usuários acabarão. João concorda e completa dizendo que o traficante não se importa com as eventuais consequências de seus atos, se irá para a cadeia ou não; já o usuário sim – “O usuário tem medo de ser pego.” Outra cidadã são-miguelense se manifesta perguntando qual a idade ideal para abordar o assunto. João responde dizendo que o mais rápido possível – “Se não conversar com teus filhos, o delegado eventualmente irá. Tem que quebrar o tabu em casa, é importantíssimo falar.” Um ex-usuário manifestou-se pedindo para João explicar mais afundo o que o crack causa no indivíduo, disse estar limpo há um ano. João disse que a fissura da pedra é cinquenta vezes maior do que qualquer prazer que alguém já sentiu. Comenta que o pior momento do dia para o usuário é quando nasce o sol, porque as bocas de fumo só abrem durante a noite. Disse que já injetou whisky na veia, tomou álcool de limpeza, cheirou desodorante de aerossol, em busca de cessar a fissura. Aponta o ex-usuário como um pilar de ajuda, disse que foi Deus quem o trouxera àquela palestra. João colocou-se a disposição para ajudar no que for necessário, e terminou dizendo: “Eu nunca li a bíblia, mas eu sei que Jesus andou pra caramba, morreu numa cruz, foi surrado e a única palavra que ele disse foi AMOR.” A plateia aplaude João. Tiago toma a palavra acrescentando que aquele momento poderá ser histórico. Propôs a formação de um conselho. Agradeceu a todos e disse que tudo o que acontecera ali seria publicado. Nada mais havendo a declarar, foi discorrida por mim, Carolina Rodrigues de Almeida, a presente ata, e assinada pelos presentes acima nominados e referenciados.

Um comentário:

  1. Lendo esta matéria agora, confesso que me assustei e cai na real, não imaginava que tivesse tantos jovens usuários de crack em São Miguel,longe há 10 anos a gente acaba perdendo a noção.
    Quer parabenizar todas essas pessoas iluminadas que tomaram essa bela iniciativa para ajudar tantas pessoas que vivem nesta realidade cruel.
    Mesmo tão longe, contem com meu apoio!
    Catarina Tanaka

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