A Violência no Rio de Janeiro. Paulo Lins por Kelly R.


Sergio Cabral, governador do Rio de Janeiro, fala: "a polícia sobe na favela e tem que trocar tiro mesmo, porque o traficante não recebe a polícia com flores e sim com tiros, então a polícia responde a altura".
Segundo Paulo Lins, escritor e autor do livro Cidade de Deus, "a polícia é recebida com tiro porque o Estado deixa as armas e munição chegarem lá pela corrupção. Drogas nem tanto, porque as drogas não são oficiais como as armas. Não há fábricas de armas clandestinas.
A maioria das armas que vi nas favelas do Brasil é fabricada aqui. Munição também.
Não pode existir crime organizado se não tiver corrupção, não pode existir tráfico de drogas e armas se não existir corrupção.
Fico com medo do Estado ocupar a maioria das favelas, monitorando o deslocamento essas pessoas e depois matar todo mundo de uma vez, dizendo de novo que não foi recebido com flores. Isso não tem cabimento porque o Brasil não tem pena de morte.
Se a pessoa tiver oportunidade, ela vai fazer outra coisa. Ninguém quer ser bandido.
Criminalizar as drogas é fonte de corrupção para juiz ganhar dinheiro, advogado, polícia, governantes corruptos ganharem dinheiro.
Porque é crime vender, comprar e fumar?
Porque o usuário de classe média, alta vai para a clínica de recuperação e o pobre vai para a cadeia, e apanha da polícia na rua quando não é extorquido. Eu já vi policial pegar dois reais de um usuário para não levá-lo preso.
O número desses bandidos armados, semi-analfabetos, famintos que nascem nas favelas e periferias da América Latina é muito pequeno. Só tem esse tipo de criminalidade onde teve colonização e escravidão." Essas são as palavras de Paulo Lins, escritor traduzido em mais de 15 países. E eu, brasileira de São Miguel Arcanjo, de 16 anos, concordo com o que ele diz e continuo: todos dizem que o maior crime que há no Brasil é o tráfico. Eu discordo. Acho que o maior crime no Brasil seja a corrupção. É o crime do Colarinho Branco, em que a maioria é de classe média e classe alta, disfarçados e desarmados, que roubam dinheiro dos cidadãos, e que mesmo quando são flagrados não são presos. Ao contrário, gozam da liberdade que lhe foi concebida.

Kelly Rafaela - Capital Juvenil

Fonte: Revista Caros Amigos - Abril de 2010.

Um comentário:

  1. Maravilha, Kelly. Gostei do seu texto.. e digo também.. pra essas pessoas das quais Paulo Lins fala, falta um monte de coisa: educação de qualidade, direitos, oportunidades, moradia digna, alimentação de qualidade, presença do Estado... Punição não falta... Abs. Tiago.

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